segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Espiritismo não é colcha de retalhos


O simples bom senso já indica que um centro, ou uma sociedade espírita digna desse nome, não pode ser uma casa do livre pensar espírita, onde cada um faz o que bem entende, segue este ou aquele caminho, como querem os poucos que se intitulam espíritas laicos. Pelo contrário, deve seguir um estatuto para orientar suas atividades, elaborado seguindo as normas da Federação Espírita Brasileira e da Federação Espírita de seu respectivo estado. Acreditamos, junto a Allan Kardec, que um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da doutrina seria sua falta de unidade. O único meio de evitá-la, segundo consta no livro Obras Póstumas, de Kardec, é formulá-la em todas as suas partes e até nos mínimos detalhes, com tanta precisão e clareza, que impossível se torne qualquer interpretação divergente.

PASSES – O passe, por exemplo, é a simples imposição das mãos com uma prece proferida pelo passista, em benefício da pessoa que está sendo assistida, tal como se praticava nos tempos de Jesus. Não se recomenda gesticulações exageradas, nem o passe “chuveirinho” em que se movimentam os dedos da mão a semelhança de um chuveiro, ou o passe murmurando uma prece, ocasião em que a gente fica curiosa para saber o que o passista está dizendo. Muito menos encostar as mãos na pessoa assistida. Nada disso, para que haja uniformização dos passes, é recomendável realizar periodicamente cursos especiais para passistas.

PRECES – A principal é aquela que Jesus nos ensinou, como está no Evangelho de Mateus (6,9-13). Chamada de Pai Nosso ou Oração Dominical, pode suprir a todas, conforme os pensamentos que se lhe conjuguem. Não se recomenda modificações no seu conteúdo nem as adaptações de preces de outras religiões, como a Ave Maria. Reconhecemos em Maria o espírito de maior luz dos que já estiveram na Terra, superada apenas pela luz de Jesus. Por ela temos perene devoção e contamos com suas bênçãos em todas as oportunidades de nossa vida. Mas a Ave Maria é uma oração criada no seio da Igreja Católica e contém um grave equívoco ao considerar Maria como a “Mãe de Deus”, quando sabemos que Deus não tem mãe, pois Jesus não é Deus, e sim o seu principal enviado ao planeta Terra.

ORAÇÕES ESPÍRITAS – O Evangelho Segundo o Espiritismo apresenta várias páginas com orações espíritas, selecionadas por Allan Kardec, para as mais diversas situações. Além disso, temos inúmeros exemplos de belíssimas orações recebidas pela mediunidade de Chico Xavier e Divaldo Franco. De minha parte, a prece denominada De Cáritas, depois do Pai Nosso, é a mais emotiva de todas e não por acaso tem sido contritamente pronunciada por várias gerações de espíritas. Cáritas era um espírito que se comunicava através de uma das grandes médiuns de sua época – Mme. W. Krell – em um grupo de Bordeaux (França), sendo ela uma das maiores psicógrafas da História do Espiritismo. E eu pergunto: com o repertório tão amplo e inspirado, por que garimpar e alterar preces de outras religiões?


SESSÕES ESPÍRITAS – Em termos bem simples, devem ser constituídas por um número médio de 10 pessoas, entre médiuns ostensivos e de apoio, sentados em torno de uma mesa e mais o doutrinador. Nada de velas, incenso, cânticos ou rituais. Inicia-se com uma prece, depois de rápida leitura e comentário de um trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo, seguindo-se os passes nos participantes. Após essa abertura, desenrolam-se as manifestações mediúnicas programadas pelo plano espiritual, todas acolhidas com muito amor. A sessão geralmente é encerrada com uma prece. Em nenhuma hipótese devem participar da mesma pessoas despreparadas, que não tenham um profundo conhecimento da doutrina.

TUDO DE GRAÇA – Uma boa pista para se identificar a idoneidade de uma casa espírita é a completa gratuidade de todos seus atendimentos. Segue-se ao pé da letra a recomendação de Jesus: dá de graça o que de graça recebestes (Evangelho de Mateus, 10:8). A mediunidade é um dom que as pessoas recebem de graça e de graça deve ser praticada. Caso contrário, os espíritos do bem se afastam e são substituídos pelos interesseiros, que enganam os incautos em troca de dinheiro. E nada justifica a quebra de nossa unidade doutrinaria, atitude que poderia transformar o Espiritismo numa colcha de retalhos.

PRIMEIRA VEZ – Ao visitar uma casa espírita pela primeira vez, procure saber se é filiada à Federação Espírita de Goiás ou de seu respectivo estado, o que já é uma recomendação. Dê preferência às palestras públicas e ao horário de passes. Se precisar de esclarecimentos ou atendimento especial, dirija-se à Secretária.

(Por Pedro Fagundes Azevedo, ex-presidente por três gestões e atual membro do Conselho Deliberativo da Legião Espírita de Porto Alegre)

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